Porto, 22 Fev (Lusa) - A mãe de um recém-nascido, encontrado morto quinta-feira em Gaia, confessou à polícia que estrangulou o bebé, colocando-o depois num congelador, num relato telefónico "de tal forma frontal e frio" que levou as autoridades a duvidarem do que ouviam.
A informação foi hoje dada por diversos vizinhos e confirmada à Lusa, no essencial, por uma fonte policial.
A participação do crime estava a ser feita telefonicamente à PSP por uma amiga, na presença da alegada infanticida confessa.
A amiga, devido ao grande nervosismo e em choro convulsivo, não conseguiu relatar detalhes do caso.
"Não consegues tu contar, conto eu", terá alegadamente dito a mulher, que arrancou o telefone às mãos da amiga e, segundo o testemunho desta, "com aparente frieza e sem demonstrar remorso", confirmou o estrangulamento da criança que dera à luz e a sua colocação num congelador.
"A polícia pensou tratar-se de brincadeira mas a amiga recompôs-se e confirmou", disse hoje à Lusa um dos vizinhos, que não se quis identificar.
Ainda segundo testemunhos dos vizinhos, a mulher, uma empregada de escritório de 35 anos, escondeu sempre esta gravidez, dizendo que padecia de um fibroma.
"Apesar de ser evidente que estava grávida, ela negou-o sempre, dizendo que tinha um fibroma e que já estava a ser acompanhada", disseram vizinhos à Lusa, também sob anonimato.
A mulher, casada, com três filhos (um de dois, outro de oito e um terceiro de 14) aparentava não ter problemas financeiros que dificultassem o sustento de mais uma criança.
Também não teria problemas com o marido que, segundo garantiram, fora também induzido a acreditar que a mulher não estaria grávida, tendo apenas um fibroma.
Nunca nenhum vizinho se apercebeu que enfrentasse qualquer problema do foro mental.
A empregada de escritório já tinha escondido a anterior gravidez "quase até à altura do parto", disseram os vizinhos ouvidos pela Lusa.
As desconfianças sobre a gravidez negada foram suscitadas por uma amiga, quando descobriu que a suspeita de infanticídio estava a ser acompanhava no Hospital de Gaia.
Essa amiga partilhou a desconfiança com a sogra da alegada infanticida, que, confrontada por ambas, admitiu o crime.
Nessa sequência dessa alegada confissão a amiga telefonou à polícia para relatar a situação.
Manuela Santos, a única vizinha que aceitou identificar-se perante os jornalistas, disse que "nos tempos que correm, não havia necessidade de fazer isto".
"Se não queria fazer um aborto, mandava a criança para adopção", disse.
A mulher, que foi notificada para comparecer hoje na Polícia Judiciária (PJ), para prestar depoimento, arrisca uma acusação por infanticídio, crime punível com um a cinco anos de prisão.
A alegada infanticida não foi detida porque, face ao novo Código do Processo Penal, isso só poderia ocorrer num caso de flagrante delito.
O corpo do bebé, de sexo masculino e que teria nascido na última sexta-feira, foi encontrado congelado e embrulhado num saco plástico.
No local, esteve, além da Brigada de Homicídios da Polícia Judiciária, um perito do Instituto de Medicina Legal (IML) do Porto.
PM/JGJ.
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